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O Rei de Quase Tudo

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O Rei de Quase Tudo por Babi Dias.

"Esta narrativa escrita por Eliardo França tem como protagonista um rei. Este quanto mais tinha mais queria. Vivia, por isso, constantemente infeliz e insatisfeito. Na verdade, ele desejava ser o rei de tudo e não de quase tudo. Uma história bem contada sobre o comportamento humano e sua relação com o mundo a sua volta."

Fonte: Global Editora.

Autor: Eliardo França.

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O Rei de Quase Tudo

Um Poema Por Dia

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O Rei de Quase Tudo por Babi Dias.

"Esta narrativa escrita por Eliardo França tem como protagonista um rei. Este quanto mais tinha mais queria. Vivia, por isso, constantemente infeliz e insatisfeito. Na verdade, ele desejava ser o rei de tudo e não de quase tudo. Uma história bem contada sobre o comportamento humano e sua relação com o mundo a sua volta."

Fonte: Global Editora.

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Emergência por Odilon Esteves. Quem faz um poema abre uma janela. Respira, tu que estás numa cela abafada, esse ar que entra por ela. Por isso é que os poemas têm ritmo Para que possas profundamente respirar. Quem faz um poema salva um afogado. Autor: Mário Quintana. Assista este poema narrado pelo Odilon Esteves também no Youtube pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=SGxpH2xtEUk…
 
Fragmento de Vida e Proezas por Sérgio Gomide " [...] Lembrei-me de certa manhã, num Pinheiro encontrei um casulo, no instante em que a borboleta dentro dele rompia a casca e se preparava para surgir. Eu esperava, esperava, estava demorando e eu tinha pressa. Então me inclinei sobre ela e comecei a aquecê-lá com o meu hálito, impacientemente eu aquecia e um milagre começou a se desenrolar diante de mim com um ritmo veloz e antinatural, a casca abriu-se completamente e a borboleta surgiu. Jamais esquecerei o meu horror, suas asas ficaram frisadas, não se desdobraram, todo seu corpinho esforçava-se para desenrolá-las, mas não conseguia. Com o meu hálito, eu também me esforçava para ajudá-la, em vão, ela necessitava de um paciente amadurecimento e desdobramento ao sol, mas agora já era tarde. Meu sopro havia forçado a borboleta a surgir antes da hora, enrugada e temporam. Saiu imatura, moveu-se desesperada e logo depois morreu na palma da minha mão. Acho que esse penugento corpo morto da Borboleta é o maior peso que carrego na consciência. Eu compreendi então em profundidade, é pecado mortal infringir as leis eternas, temos o dever de seguir o ritmo perpétuo com confiança. Para assimilar calmamente essa reflexão de ano novo empolerei-me em um Rochedo. Aí se eu pudesse, dizia para mim mesmo, neste novo ano ritmar minha vida assim: sem paciência histéricas. Se essa pequena borboleta que eu matei porque tive demasiada pressa para fazer viver, voasse sempre diante de mim mostrando-me o meu caminho e assim uma borboleta que morreu precocemente talvez ajudasse uma irmã, uma borboleta humana a não se apressar e a conseguir desenrolar as asas em ritmo lento [...]" Autor: Alexis Zorbas…
 
Cântico Negro por Odilon Esteves. "Vem por aqui" — dizem-me alguns com olhos doces, Estendendo-me os braços, e seguros De que seria bom que eu os ouvisse Quando me dizem: "vem por aqui!" Eu olho-os com olhos lassos, (Há, nos olhos meus, ironias e cansaços) E cruzo os braços, E nunca vou por ali... A minha glória é esta: Criar desumanidade! Não acompanhar ninguém. — Que eu vivo com o mesmo sem-vontade Com que rasguei o ventre a minha Mãe. Não, não vou por aí! Só vou por onde Me levam meus próprios passos... Se ao que busco saber nenhum de vós responde, Por que me repetis: "vem por aqui!"? Prefiro escorregar nos becos lamacentos, Redemoinhar aos ventos, Como farrapos, arrastar os pés sangrentos, A ir por aí... Se vim ao mundo, foi Só para desflorar florestas virgens, E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faço não vale nada. Como, pois, sereis vós Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem Para eu derrubar os meus obstáculos?... Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós, E vós amais o que é fácil! Eu amo o Longe e a Miragem, Amo os abismos, as torrentes, os desertos... Ide! Tendes estradas, Tendes jardins, tendes canteiros, Tendes pátrias, tendes tectos, E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios. Eu tenho a minha Loucura! Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura, E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios... Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém. Todos tiveram pai, todos tiveram mãe; Mas eu, que nunca princípio nem acabo, Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo. Ah, que ninguém me dê piedosas intenções! Ninguém me peça definições! Ninguém me diga: "vem por aqui"! A minha vida é um vendaval que se soltou. É uma onda que se alevantou. É um átomo a mais que se animou... Não sei para onde vou, Não sei para onde vou - Sei que não vou por aí! Autor: José Régio. Assista este poema narrado pelo Odilon Esteves também no Youtube pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=7ZA4mfovFOM…
 
Ismália por Alexsandre da Silva Carvalho. Quando Ismália enlouqueceu Pôs-se na torre a sonhar Viu uma lua no céu Viu outra lua no mar No sonho em que se perdeu Banhou-se toda em luar Queria subir ao céu Queria descer ao mar E num desvario seu Na torre pôs-se a cantar Estava perto do céu Estava longe do mar E como um anjo pendeu As asas para voar Queria a lua do céu Queria a lua do mar As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par Sua alma subiu ao céu Seu corpo desceu ao mar Autor: Alphonsus de Guimarães.…
 
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Elegia por Odilon Esteves. Um dia, amor, tudo o que existe agora, Tudo o que forma o nosso grande orgulho, A pureza e o esplendor de nossas almas, Terá morrido, sem deixar lembrança, Na velha terra indiferente aos homens. Nada do que hoje nos parece eterno Terá ficado do naufrágio imenso. Esquecidas de nós, as novas almas Levantarão para as estrelas mudas O milagre feliz dos novos sonhos, Sem talvez meditar que a terra outrora Vira prodígios e deslumbramentos Semelhantes aos seus, sob um céu puro. Uma névoa de pó terá coberto As cidades vaidosas, onde os homens Hoje, lutando, desvairados, sofrem. E apenas raros monumentos tristes Lembrarão, no candor da branca pedra, A fronte sacratíssima de um sábio, De um herói, de um guerreiro, de um poeta, Que a glória cinja com a divina palma. Novos deuses, em templos majestosos, Receberão, no plácido silêncio, O murmúrio das preces comovidas, O perfumado fumo das oblatas E o amor das multidões... Ah! nesse tempo Eu terei recebido dos destinos O bem do esquecimento imperturbável... Deste homem que hoje sou - das minhas crenças, Dos meus sonhos de amor, dos meus desejos, Das minhas ambições mais rutilantes - Nada mais restará, nada, na terra! Mas, quem sabe? Talvez, um dia, um homem, Amigo das pesquisas minuciosas, Visite longamente as bibliotecas, Onde durmam os livros seculares, Que as traças lentas vão destruindo a custo. E esse homem, cheio de um amor antigo, Curioso do viver das eras mortas, Talvez encontre, entre outros livros velhos, Estes versos que escrevo, e em que minha alma Fala à tua alma em longas confidências. E então, meu lindo amor, como evadidos De um sepulcro, nós dois ressurgiremos Aos olhos caridosos desse amigo, Vindos das densas sombras do passado. Talvez... Seremos belos! Nossa fronte, Há de doirá-la a mesma juventude, Que hoje nos cerca de um clarão sagrado! Haverá nos teus lábios esse mesmo Beijo vibrante que me trazes hoje! E nos olhos terás o mesmo encanto Que neles me seduz e prende agora! Sim: no milagre desse instante ardente, Nessa ressurreição maravilhosa, Nós brilharemos juntos, aureolados De um novo amor e de um carinho novo! E então esse paciente amigo nosso Volverá para nós, nos dias de hoje, Toda a sua saudade religiosa, E invejará, talvez, piedosamente, Essa breve, ligeira hora de sonho, Que hoje os destinos deixam que vivamos... Autor: Múcio Leão. Assista este poema narrado pelo Odilon Esteves também no Youtube pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=IzW8roQ95Gw…
 
Pela Luz dos Olhos Teus por Paloma Leite. Quando a luz dos olhos meus E a luz dos olhos teus Resolvem se encontrar, Ai que bom que isso é meu Deus, Que frio que me dá o encontro desse olhar. Mas se a luz dos olhos teus Resiste aos olhos meus só pra me provocar, Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar. Meu amor, juro por Deus, Que a luz dos olhos meus já não pode esperar, Quero a luz dos olhos meus Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará. Pela luz dos olhos teus Eu acho, meu amor, que só se pode achar Que a luz dos olhos meus precisa se casar. Autor: Vinicius de Moraes…
 
Para Pintar o Retrato de Um Pássaro por Odilon Esteves. Primeiro pintar uma gaiola com a porta aberta pintar depois algo de lindo algo de simples algo de belo algo de útil para o pássaro depois dependurar a tela numa árvore num jardim num bosque ou numa floresta esconder-se atrás da árvore sem nada dizer sem se mexer… Às vezes o pássaro chega logo mas pode ser também que leve muitos anos para se decidir Não perder a esperança esperar esperar se preciso durante anos a pressa ou a lentidão da chegada do pássaro nada tendo a ver com o sucesso do quadro Quando o pássaro chegar se chegar guardar o mais profundo silêncio esperar que o pássaro entre na gaiola e quando já estiver lá dentro fechar lentamente a porta com o pincel depois apagar uma a uma todas as grades tendo o cuidado de não tocar numa única pena do pássaro Fazer depois o desenho da árvore escolhendo o mais belo galho para o pássaro pintar também a folhagem verde e a frescura do vento a poeira do sol e o barulho dos insetos pelo capim no calor do verão e depois esperar que o pássaro queira cantar Se o pássaro não cantar mau sinal sinal de que o quadro é ruim mas se cantar bom sinal sinal de que pode assiná-lo Então você arranca delicadamente uma das penas do pássaro e escreve seu nome num canto do quadro. Autor: Jacques Prévert. Assista este poema narrado pelo Odilon Esteves também no Youtube pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=6OP3j5eVD0o…
 
A Catedral por Alexsandre da silva carvalho. Entre brumas, ao longe, surge a aurora. O hialino orvalho aos poucos se evapora, Agoniza o arrebol. A catedral ebúrnea do meu sonho Aparece, na paz do céu risonho, Toda branca de sol. E o sino canta em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!" O astro glorioso segue a eterna estrada. Uma áurea seta lhe cintila em cada Refulgente raio de luz. A catedral ebúrnea do meu sonho, Onde os meus olhos tão cansados ponho, Recebe a bênção de Jesus. E o sino clama em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!" Por entre lírios e lilases desce A tarde esquiva: amargurada prece Põe-se a lua a rezar. A catedral ebúrnea do meu sonho Aparece, na paz do céu tristonho, Toda branca de luar. E o sino chora em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!" O céu é todo trevas: o vento uiva. Do relâmpago a cabeleira ruiva Vem açoitar o rosto meu. E a catedral ebúrnea do meu sonho Afunda-se no caos do céu medonho Como um astro que já morreu. E o sino geme em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!" Autor: Alphonsus de Guimaraens…
 
Das Vantagens de Ser Bobo por Odilon Esteves. - O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo. - O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." - Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia. - O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. - Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. - O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver. - O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoiévski. - Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar-refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era a de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. - Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranquilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. - O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo nem nota que venceu. - Aviso: não confundir bobos com burros. - Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a frase célebre: "Até tu, Brutus?" - Bobo não reclama. Em compensação, como exclama! - Os bobos, com suas palhaçadas, devem estar todos no céu. - Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz. - O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. - Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. - Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham vida. - Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem. - Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita o ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas! - Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. - É quase impossível evitar excesso de amor que um bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo. Autora: Clarice Lispector Assista este poema narrado pelo Odilon Esteves também no Youtube pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=esx7h5NWfl0…
 
Era noite de lua na minha alma por Alexsandre da Silva Carvalho. Era noite de lua na minha alma quando surgiste pela vez primeira: em cada estrela, pelo azul em calma, florescia uma flor em de laranjeira. A esperança entreabria a verde palma ante os meus olhos, tépida, fagueira, como um aroma que inebria e acalma. Romaria de amor, doce rameira! E era um jardim de lírios. Suavemente sorriu-me a tua boca enamorada, como as flores que são como tu és... - "Em que pensas?" - dissestes, a voz tremente - "Senhora, penso que serás fanada como este lírio que te atira aos pés!" Autor: Alphonsus de Guimaraens…
 
O Homem; As Viagens por Odilon Esteves. O homem, bicho da terra tão pequeno Chateia-se na terra Lugar de muita miséria e pouca diversão, Faz um foguete, uma cápsula, um módulo Toca para a lua Desce cauteloso na lua Pisa na lua Planta bandeirola na lua Experimenta a lua Coloniza a lua Civiliza a lua Humaniza a lua. Lua humanizada: tão igual à terra. O homem chateia-se na lua. Vamos para marte - ordena a suas máquinas. Elas obedecem, o homem desce em marte Pisa em marte Experimenta Coloniza Civiliza Humaniza marte com engenho e arte. Marte humanizado, que lugar quadrado. Vamos a outra parte? Claro - diz o engenho Sofisticado e dócil. Vamos a vênus. O homem põe o pé em vênus, Vê o visto - é isto? Idem Idem Idem. O homem funde a cuca se não for a júpiter Proclamar justiça junto com injustiça Repetir a fossa Repetir o inquieto Repetitório. Outros planetas restam para outras colônias. O espaço todo vira terra-a-terra. O homem chega ao sol ou dá uma volta Só para tever? Não-vê que ele inventa Roupa insiderável de viver no sol. Põe o pé e: Mas que chato é o sol, falso touro Espanhol domado. Restam outros sistemas fora Do solar a col- Onizar. Ao acabarem todos Só resta ao homem (estará equipado?) A dificílima dangerosíssima viagem De si a si mesmo: Pôr o pé no chão Do seu coração Experimentar Colonizar Civilizar Humanizar O homem Descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas A perene, insuspeitada alegria De con-viver. Autor: Carlos Drummond de Andrade Assista este poema narrado pelo Odilon Esteves também no Youtube pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=mul0js51mWw…
 
Pátria Minha por Odilon Esteves. A minha pátria é como se não fosse, é íntima Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo É minha pátria. Por isso, no exílio Assistindo dormir meu filho Choro de saudades de minha pátria. Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi: Não sei. De fato, não sei Como, por que e quando a minha pátria Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água Que elaboram e liquefazem a minha mágoa Em longas lágrimas amargas. Vontade de beijar os olhos de minha pátria De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos... Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias De minha pátria, de minha pátria sem sapatos E sem meias, pátria minha Tão pobrinha! Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho Pátria, eu semente que nasci do vento Eu que não vou e não venho, eu que permaneço Em contato com a dor do tempo, eu elemento De ligação entre a ação e o pensamento Eu fio invisível no espaço de todo adeus Eu, o sem Deus! Tenho-te no entanto em mim como um gemido De flor; tenho-te como um amor morrido A quem se jurou; tenho-te como uma fé Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito Nesta sala estrangeira com lareira E sem pé-direito. Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra Quando tudo passou a ser infinito e nada terra E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz À espera de ver surgir a Cruz do Sul Que eu sabia, mas amanheceu... Fonte de mel, bicho triste, pátria minha Amada, idolatrada, salve, salve! Que mais doce esperança acorrentada O não poder dizer-te: aguarda... Não tardo! Quero rever-te, pátria minha, e para Rever-te me esqueci de tudo Fui cego, estropiado, surdo, mudo Vi minha humilde morte cara a cara Rasguei poemas, mulheres, horizontes Fiquei simples, sem fontes. Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta Lábaro não; a minha pátria é desolação De caminhos, a minha pátria é terra sedenta E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular Que bebe nuvem, come terra E urina mar. Mais do que a mais garrida a minha pátria tem Uma quentura, um querer bem, um bem Um libertas quae sera tamen Que um dia traduzi num exame escrito: "Liberta que serás também" E repito! Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa Que brinca em teus cabelos e te alisa Pátria minha, e perfuma o teu chão... Que vontade me vem de adormecer-me Entre teus doces montes, pátria minha Atento à fome em tuas entranhas E ao batuque em teu coração. Não te direi o nome, pátria minha Teu nome é pátria amada, é patriazinha Não rima com mãe gentil Vives em mim como uma filha, que és Uma ilha de ternura: a Ilha Brasil, talvez. Agora chamarei a amiga cotovia E pedirei que peça ao rouxinol do dia Que peça ao sabiá Para levar-te presto este avigrama: "Pátria minha, saudades de quem te ama… Vinicius de Moraes." Autor: Vinicius de Moraes. Assista este poema narrado pelo Odilon Esteves também no Youtube pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=bttERoftXxA…
 
O Futuro por Marina Alves. O futuro? Tem orelhas, mas é surdo. E é manco. Se arrasta, sem espanto mais alheio do que lúcido com o nosso despreparo. Se fosse um deus amava o humano mas, como não existe, o futuro tem de amansar seus ventos, marcando as peles, as montanhas. Sendo um gênio, não é um exército de cronogramas, nem de antecipações. Tem firmeza de flor. E é invisível, reconhecido por seus efeitos de brisa, furacão. Nunca adiado. Não tem nada a ensinar no entanto é um mestre dizem os esgrimistas, os observadores de saltos, os gatos também aprendem certos truques com ele. E se ama os despreparados lhe sabem tanto os que fazem quanto os que esperam. Os otimistas valem mais valem quanto? Cem bifurcações, sucessivas gerações de bem aventurados que topam em pedras, cicatrizam e correm bem alimentados com fome de mais alimento. São seus sinais os imprevistos, os cavalos os pontos cardeais os cinco sentidos e os setes buracos da cabeça. Autora: Júlia de Carvalho Hansen…
 
Vai Procurar por Odilon Esteves. Vai procurar, no fundo do seu coração motivos para não ser feliz, que você acha. Você vai encontrar passados, pão dormido, roupa velha, mofada, pedaços de brinquedo, alegrias de papel, arrependimentos onipotentes, desejos frustrados de voltar a vida que é só pra frente... Você vai encontrar medos inventados pelas mães do mundo, violências de pais, castigos, promessas, vis encantamentos e culpas, mais culpas, máximas culpas, encarregadas de curvar o peito e afastar você de Deus. Você vai encontrar uma multidão de rostos contorcidos de inveja, um monte de gente falando os caminhos por onde você deve passar. Você vai encontrar conselhos, advertências, ameaças, sutis proteções, elogios, gratidões, súplicas, presentes: vozes de todos os donos e todos os escravos. E no meio de tudo isso, você só não vai encontrar, infelizmente: VOCÊ. Autor: Antônio Roberto Assista este poema narrado pelo Odilon Esteves também no Youtube pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=UxT9G9QRdaM…
 
Cinco meninos, Cinco ratos por Babi Dias Às 5 horas da tarde o vento faz o que nunca tinha feito Deita baixo Alexandre, ele levanta-se, mas de novo é derrubado E outra vez, e outra vez derrubado Alexandre tem medo agora e já não se levanta, Decide deixar que a tempestade passe. Autor: Gonçalo M Tavares…
 
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