Há 30 anos, Paulo Lima faz entrevistas com as personalidades mais interessantes do país
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Episódio 7 - primeira temporada
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Os Sons Decidem por onde ir (Hans Otte) Toda a linguagem pode ser nociva, mesmo a que eventualmente achamos que não; exactamente por não nos ser possível viver a vida de outros, as apreensões de outros, o corpo de outros, o que palavras vãs a mais provocam nos outros. Achar que as expressões verbais não carregam todas juízos, todas... sem excepção, é estar à parte do mundo senciente, donde da arte, donde da vida. Se estamos dentro da nossa vida (das nossas constelações) não é possível estar dentro a avaliá-la; se assim fosse, como o mundo é infinito e o nosso cérebro não o consegue cobrir na totalidade, todas as ideias, todos os estímulos, andaríamos sempre frustrados. O monólogo como forma "importantíssima" de crítica num mundo de estímulos e contrastes é o álibi perfeito de sociedades pândegas serventes a quem custa encarar o grande simulacro da sua concepção de inactualidade cultural. Em 1885, Friedrich Nietzsche perguntava no antelóquio de Jenseits von Gut und Böse: "Admitindo ser a verdade uma mulher, não será bem fundada a suspeita de que todos os filósofos, ao serem dogmáticos, mostraram conhecer mal a mulher?" A mesma pergunta poderia ser feita a respeito do ensino artístico, da filosofia, da história, ou do ensino da música clássica. Se as constelações criadas nas músicas e nos textos podem amoldar experiências pessoais nas dos outros, não se podem analisar apenas numa procura de equivalências a fonéticas, lexemas, expressões idiomáticas, ou pentagramas; pois assim só nos restaria atribuir um sentido claro e apagar de cada fonograma que achamos relevante, e de cada livro que achamos interessante, a obscuridade intrínseca às experiências transmitida por linguagens criadas a partir de outros nexos e em confronto com tradições minuciosamente estudadas e vividas durante anos; traduzindo a história dos mundos que abraça. É que nos limites dos signos encontramos para lá dos nomes generalistas das notas musicais e das unidades linguísticas mínimas compostas por significantes (imagens acústicas) e significados (coisas), constelações aparentemente fixas mas ligadas por figuras imaginárias a que correspondem cenários especiais. Não há ninguém que escreva que não saiba que a palavra é um signo, e a linguagem feita de objectos presentes, orais e escritos, mirando outros já existentes, não percebidos no imediato. Objectos que são significados e dados a conhecer por via dos signos a outros sujeitos. Num debate organizado por Yves Buin em França no ano 1964, Jean-Paul Sartre dizia: “Quando oiço dizer ‘o homem é a literatura’ entendo imediatamente: o homem está alienado à literatura. Isto porque me é impossível reduzir uma actividade humana como é a literatura à sua essência, tal como fez Ricardou”. Se fazer do homem a essência do literário, como do musical, nada significa, o que procura num disco, num livro, num artigo, o ouvinte ou o leitor? E o que se reclama de crítico, quando qualquer autora experiente tem um olhar crítico e está pronta a debater e rebater? Procurará coisas diferentes, dependendo da provisoriedade ‘dos dias’ em que profere as suas opiniões. No filme Tár, escrito e realizado por Todd Field com a magnífica interpretação de Cate Blanchett para lá do set de filmagens, pois aprendeu alemão e a tocar piano para compor a sua personagem, temos um jargão musical por todo o filme difícil de entender para quem não é músico. Mas, um outro velhinho axioma percorre o filme: permanece a paciência para estar de joelhos diante da força quando até ela já passou a estar ao nosso serviço como instrumento e meio. Se no oculto a desprezamos irredutivelmente com os dentes insaciáveis da falange especializada "na técnica da escrita e não na escrita", no plateau aplaudimo-la, sem outra alternativa... Chegámos, como perceberam, ao episódio 7 das nossas conversas anartísticas sem guião; convidámos a pianista Joana Gama para se juntar à conversa. Passamos, como habitualmente, músicas e ainda falamos de livros que lemos ou andamos a ler.
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Os Sons Decidem por onde ir (Hans Otte) Toda a linguagem pode ser nociva, mesmo a que eventualmente achamos que não; exactamente por não nos ser possível viver a vida de outros, as apreensões de outros, o corpo de outros, o que palavras vãs a mais provocam nos outros. Achar que as expressões verbais não carregam todas juízos, todas... sem excepção, é estar à parte do mundo senciente, donde da arte, donde da vida. Se estamos dentro da nossa vida (das nossas constelações) não é possível estar dentro a avaliá-la; se assim fosse, como o mundo é infinito e o nosso cérebro não o consegue cobrir na totalidade, todas as ideias, todos os estímulos, andaríamos sempre frustrados. O monólogo como forma "importantíssima" de crítica num mundo de estímulos e contrastes é o álibi perfeito de sociedades pândegas serventes a quem custa encarar o grande simulacro da sua concepção de inactualidade cultural. Em 1885, Friedrich Nietzsche perguntava no antelóquio de Jenseits von Gut und Böse: "Admitindo ser a verdade uma mulher, não será bem fundada a suspeita de que todos os filósofos, ao serem dogmáticos, mostraram conhecer mal a mulher?" A mesma pergunta poderia ser feita a respeito do ensino artístico, da filosofia, da história, ou do ensino da música clássica. Se as constelações criadas nas músicas e nos textos podem amoldar experiências pessoais nas dos outros, não se podem analisar apenas numa procura de equivalências a fonéticas, lexemas, expressões idiomáticas, ou pentagramas; pois assim só nos restaria atribuir um sentido claro e apagar de cada fonograma que achamos relevante, e de cada livro que achamos interessante, a obscuridade intrínseca às experiências transmitida por linguagens criadas a partir de outros nexos e em confronto com tradições minuciosamente estudadas e vividas durante anos; traduzindo a história dos mundos que abraça. É que nos limites dos signos encontramos para lá dos nomes generalistas das notas musicais e das unidades linguísticas mínimas compostas por significantes (imagens acústicas) e significados (coisas), constelações aparentemente fixas mas ligadas por figuras imaginárias a que correspondem cenários especiais. Não há ninguém que escreva que não saiba que a palavra é um signo, e a linguagem feita de objectos presentes, orais e escritos, mirando outros já existentes, não percebidos no imediato. Objectos que são significados e dados a conhecer por via dos signos a outros sujeitos. Num debate organizado por Yves Buin em França no ano 1964, Jean-Paul Sartre dizia: “Quando oiço dizer ‘o homem é a literatura’ entendo imediatamente: o homem está alienado à literatura. Isto porque me é impossível reduzir uma actividade humana como é a literatura à sua essência, tal como fez Ricardou”. Se fazer do homem a essência do literário, como do musical, nada significa, o que procura num disco, num livro, num artigo, o ouvinte ou o leitor? E o que se reclama de crítico, quando qualquer autora experiente tem um olhar crítico e está pronta a debater e rebater? Procurará coisas diferentes, dependendo da provisoriedade ‘dos dias’ em que profere as suas opiniões. No filme Tár, escrito e realizado por Todd Field com a magnífica interpretação de Cate Blanchett para lá do set de filmagens, pois aprendeu alemão e a tocar piano para compor a sua personagem, temos um jargão musical por todo o filme difícil de entender para quem não é músico. Mas, um outro velhinho axioma percorre o filme: permanece a paciência para estar de joelhos diante da força quando até ela já passou a estar ao nosso serviço como instrumento e meio. Se no oculto a desprezamos irredutivelmente com os dentes insaciáveis da falange especializada "na técnica da escrita e não na escrita", no plateau aplaudimo-la, sem outra alternativa... Chegámos, como perceberam, ao episódio 7 das nossas conversas anartísticas sem guião; convidámos a pianista Joana Gama para se juntar à conversa. Passamos, como habitualmente, músicas e ainda falamos de livros que lemos ou andamos a ler.
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