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Reaver a escala entre pássaros e ditadores. Conversa com Andreia Farinha

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Dantes os pássaros alimentavam-se da carne dos capitães que morriam do outro lado do mundo. Dados como perdidos, a sua lenda desfazia-se em migalhas sustendo esses seres que não têm começo nem fim. A vida aproveita-se deles como de mais nenhuma outra imagem. Esses bandos, tomando o ar do seu canto, deixando ao vento um ar de espanto. E ensinam-nos tanto que, vislumbrando o seu Cabo Finisterra, Manuel de Castro anotou isto: “Tudo tomou rumo diferente do previsto/ – pouso as mãos nas asas quebradas dos pássaros/ de quem o sentido inútil se fez vida.” Nalgum momento, um homem há-de olhar siderado, pela última vez, um pássaro cruzar os céus. Não há outro resumo tão intenso, sendo que foi nos pássaros que tanto buscámos compêndios da vida. Nascidos sem lei nem forma, como aparas, sobras que ficaram espalhadas pela mesa de trabalho, e que aos poucos desataram a tremer de uma agitação inexplicável, lançando-se no assalto das distâncias. Fala-se da descuidada juventude deles, por facilidade sugere-se o seu exemplo para falar da inocência. Mas é mais atento compreender como legislam em segredo essas assembleias, decretos regulando em detalhe o que se liga às proporções inestimáveis. Contabilistas dos deuses, os pássaros são antes de mais uma ordem de medida, e também uma linguagem cujos signos e o próprio sentido se extraem a partir de um movimento incessante. A propósito de outra coisa, alguém notava que o mundo é um texto em movimento que deve ser decifrado através de textos em movimento. É isto o que são os movimentos dos pássaros, em bandos ou isoladamente. Uma escala para se reconhecer os elementos de harmonia e essas formas de ruptura que sinalizam as sórdidas fantasias e os degenerados cálculos daqueles que se acham em posições de poder. Andreia Farinha, no seu trabalho enquanto encenadora e dramaturga, há muito que mergulhou nesses elementos que permitem interpretar os pássaros como caracteres de uma outra relação com a História. Uma abordagem que passa desde logo por desmistificar o carácter épico desta. Também lhe interessa cortar com a visão sentimentalista da natureza, esta que elege os pássaros como emissários de uma “primavera sem fim”. Ao propor uma história política das aves, lembra que quando Hitchcock encena em Birds (1963) um motim dos pássaros, resgata o tema da sua aura suprapolítica e bucólica para nos assombrar com a complexidade insólita da nossa história, uma história que também é, e muito, interespecífica. À frente de uma estrutura teatral como a Truta no Buraco, num desacordo formidável com o que nos é servido nas casas reais da cultura lusa, abre caminho a pesquisas a partir de “histórias completamente absurdas”.

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Dantes os pássaros alimentavam-se da carne dos capitães que morriam do outro lado do mundo. Dados como perdidos, a sua lenda desfazia-se em migalhas sustendo esses seres que não têm começo nem fim. A vida aproveita-se deles como de mais nenhuma outra imagem. Esses bandos, tomando o ar do seu canto, deixando ao vento um ar de espanto. E ensinam-nos tanto que, vislumbrando o seu Cabo Finisterra, Manuel de Castro anotou isto: “Tudo tomou rumo diferente do previsto/ – pouso as mãos nas asas quebradas dos pássaros/ de quem o sentido inútil se fez vida.” Nalgum momento, um homem há-de olhar siderado, pela última vez, um pássaro cruzar os céus. Não há outro resumo tão intenso, sendo que foi nos pássaros que tanto buscámos compêndios da vida. Nascidos sem lei nem forma, como aparas, sobras que ficaram espalhadas pela mesa de trabalho, e que aos poucos desataram a tremer de uma agitação inexplicável, lançando-se no assalto das distâncias. Fala-se da descuidada juventude deles, por facilidade sugere-se o seu exemplo para falar da inocência. Mas é mais atento compreender como legislam em segredo essas assembleias, decretos regulando em detalhe o que se liga às proporções inestimáveis. Contabilistas dos deuses, os pássaros são antes de mais uma ordem de medida, e também uma linguagem cujos signos e o próprio sentido se extraem a partir de um movimento incessante. A propósito de outra coisa, alguém notava que o mundo é um texto em movimento que deve ser decifrado através de textos em movimento. É isto o que são os movimentos dos pássaros, em bandos ou isoladamente. Uma escala para se reconhecer os elementos de harmonia e essas formas de ruptura que sinalizam as sórdidas fantasias e os degenerados cálculos daqueles que se acham em posições de poder. Andreia Farinha, no seu trabalho enquanto encenadora e dramaturga, há muito que mergulhou nesses elementos que permitem interpretar os pássaros como caracteres de uma outra relação com a História. Uma abordagem que passa desde logo por desmistificar o carácter épico desta. Também lhe interessa cortar com a visão sentimentalista da natureza, esta que elege os pássaros como emissários de uma “primavera sem fim”. Ao propor uma história política das aves, lembra que quando Hitchcock encena em Birds (1963) um motim dos pássaros, resgata o tema da sua aura suprapolítica e bucólica para nos assombrar com a complexidade insólita da nossa história, uma história que também é, e muito, interespecífica. À frente de uma estrutura teatral como a Truta no Buraco, num desacordo formidável com o que nos é servido nas casas reais da cultura lusa, abre caminho a pesquisas a partir de “histórias completamente absurdas”.

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