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Câmaras térmicas, análises de ar e aspersores: o plano de segurança anti-incêndio em Notre Dame

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O incêndio na Catedral de Notre Dame, em Paris, escreveu um novo capítulo na prevenção e combate aos incêndios em locais históricos em França e no Mundo. Em entrevista à RFI, Alain Chevallier, o conselheiro de segurança de incêndio do Património no Ministério da Cultura francês, detalhou como se protege agora esta Igreja-mãe renascida das cinzas.

Mais de cinco anos depois, não se conhece a causa do incêndio da Catedral de Notre Dame. Isso, segundo o conselheiro de segurança de incêndio do Património no Ministério da Cultura francês, Alain Chevallier, é um assunto que pertence à justiça, já que o inquérito continua para apurar as causas e levar à barra dos tribunais os responsáveis. No entanto, coube a este antigo bombeiro de Paris e especialista no combate aos riscos de incêndio, assegurar que o que aconteceu em 2019 não se voltará a passar. E Alain Chevallier recorreu a todas as tecnicas desde câmaras térmicas a mecanismo de análises de ar para assegurar que Notre Dame não voltará a arder.

No início da entrevista a RFI perguntou a este especialista se havia novidades no inquérito judicial quanto às causa do incêncio de há cinco anos.

RFI: Sabemos o que aconteceu de certeza há cinco anos?

Alain Chevallier: Não é possível responder a esta pergunta porque está a decorrer uma investigação judicial, portanto não posso comentar sobre o inquérito. Mas mesmo com o Ministério Público a investigar, tivemos do nosso lado de efectuar uma análise de risco para podermos trabalhar na reconstrução da Catedral de forma a decidirmos quais os elementos estruturais que iríamos introduzir para reconstruir este edifício de forma idêntica e tivemos de partir de alguns dados adquiridos. Assim, trabalhámos com o INERIS, o Instituto Nacional de Ambiente Industrial e de Riscos, e baseámo-nos no cenário principal possível para o início do incêndio em Notre Dame: a possibilidade que tenha tido início no quadro electrico junto à estrutura em madeira no alto da Catedral. Não quer dizer que tenha sido isso que aconteceu, mas pareceu-nos ser o cenário mais provável e, por isso, a primeira medida foi retirar os quadros eléctricos de lá.

Mas sabemos onde começou o incêndio.

Sabemos que o incêndio começou perto do pináculo, mas depois disso, mais uma vez, cabe aos peritos judiciais investigar. No entanto para tomarmos decisões sobre o futuro da segurança incêndio da Catedral tivemos de assumir que o quadro eléctrico foi uma fonte de problemas.

Como é que se leva a cabo esta investigação e quais são as grandes dificuldades?

De acordo com a minha experiência, depois de tudo ter ardido, porque toda a secção superior da Catedral ardeu, é muito complicado provar como é que o incêndio teve realmente início. Dada a importância internacional deste incêndio e repercurssão que teve, torna-se ainda mais difícil provar onde é que ele iniciou. Não estou a ver como é que um juiz pode dizer alguma coisa sem ter provas materiais irrefutáveis.

Quais são as medidas tomadas para evitar um novo incêndio nesta Catedral renovada?

É preciso ter em conta que trabalhamos com vários riscos, uma situação que enfrento em todas as catedrais em que trabalho, uma vez que sou conselheiro de segurança do património e responsável por 45 catedrais em França, incluindo Notre Dame. Começamos sempre por aquilo a que chamamos o risco de eclosão, ou seja, o que podemos fazer para evitar o início de um incêndio. A primeira coisa que fizemos para evitar um incêndio foi remover todos os painéis eléctricos numa área que não é acessível, que não é de fácil acesso e que não recebe muitas visitas. Na melhor das hipóteses, eram necessários 5 a 10 minutos para chegar ao suposto local de um incêndio na estrutura do tecto de Neotre Dame. No entanto, isso não nos protege de erros humanos que possam ocorrer daqui a 30, 40 ou 50 anos durante um período em que haja obras na Catedral. Mas vamos assumir que, mesmo assim, sem painéis eléctricos, o fogo começa. Vamos então prevenir o risco de deflagração, vamos tentar impedir o risco de o fogo se desenvolver e de se propagar. Assim, para limitar esse risco, decidimos aumentar a espessura das ripas de madeira, trata-se de placas de madeira por baixo das placas de chumbo no telhado. Aumentámo-las de 27 para 40 milimetros porque os bombeiros de Paris acharam que era necessário. Já que é um sítio onde eles precisam de um certo tempo para lá chegar, o receio era que, se houvesse um novo incêndio, o fogo voltasse a trespassar o telhado, o que acelera as combustões já que o ar é combustível para o fogo. De seguida investimos em grandes sistemas de detecção. Adicionámos câmaras de imagem térmica e o objectivo é que o departamento de segurança contra incêndios no andar de baixo possa ver imediatamente se há detecção, onde está e qual a sua importância. Foram instaladas 49 câmaras em toda a Notre Dame. Existe também um sistema de detecção por multipontos, ou seja, tubos que percorrem toda a catedral e aspiram o ar a toda a hora, é silencioso e o ar está em constante análise. Assim, se encontrarem vestígios de carbono no ar, poderão emitir um aviso dizendo que o nível de carbono é demasiado elevado e, portanto, não é normal. Se tivermos um sistema de detecção duplo, este accionará automaticamente o sistema de extinção de incêndios, que acabou de ser instalado. Trata-se de um sistema de nebulização de alta pressão. A ideia não é apagar o fogo. A ideia é evitar que o fogo se propague e progrida.

Estes são sistemas muito modernos. Eles já estão a ser utilizados noutros monumentos em França?

Quando começaram a falar connosco sobre a possibilidade de sistemas de extinção de alta pressão, fui pessoalmente a outros locais onde este sistema estava instalado para verificar o seu funcionamento. Assim, por exemplo, fui à recém-reaberta Ópera do Palácio de Versalhes, que tem o mesmo sistema. Falámos sobre isso e disseram-me que era bastante fiável.

Quais é que foram as lições de Notre Dame e como é que se aplicam noutros monumentos?

Agora que estamos a começar a falar sobre o plano de segurança para as catedrais. É preciso compreender que este plano já existia antes do incêndio de Notre-Dame, mas é claro que o incêndio em Notre-Dame lhe deu um novo empurrão e fez com que o Ministério da Cultura acelerasse uma série de medidas. Portanto, havia um plano inicial, um plano de segurança reforçado para a catedral, que foi posto em prática no final de 2019, início de 2020 e nessa altura começaram a tentar implementar uma série de medidas e eu cheguei ao Ministério em 2021 e, em 2021, criámos um grupo de trabalho para ver exactamente em que ponto estávamos em relação às primeiras medidas. Isso permitiu-nos identificar algumas dificuldades e ver que havia novas técnicas disponíveis, como a instalação de sistemas de extinção automática. Assim, continuámos a melhorar o plano de segurança da catedral, acrescentando pontos como a possibilidade de instalar um sistema de extinção. Este sistema será também instalado na Catedral de Beauvais, pois sabemos que se trata de uma catedral particularmente alta e que um ser humano levaria quase dez minutos a subir lá acima para verificar se há fogo ou não. Por conseguinte, haverá um sistema de extinção de incêndios, tal como em Notre-Dame, com câmaras térmicas, tal como em Notre-Dame, para que possamos actuar rapidamente, se necessário. Agora, há outras soluções, outras coisas que pusemos em prática como parte do plano de segurança da catedral, que foi revisto em 2023. Por exemplo, instalámos aspersores automáticos nos quadros eléctricos nas catedrais onde não é possível retira-los. Se houver um incêndio e o dióxido de carbono foi detectado o fogo será extinto assim que começar. Estamos a proceder à sua instalação em todas as catedrais, pelo que penso que pelo menos 50% delas já estão equipadas. Por exemplo, uma das coisas que já existia era a instalação de compartimentação. Mas graças ao plano de recuperação, a compartimentação foi aumentada em muitas catedrais. Mas também aqui, como costumo dizer, não há duas catedrais iguais. Todas elas têm as suas particularidades. Por isso, mesmo que as regras digam que é preciso compartimentar, é preciso colocar colunas secas, ou seja, uma coluna seca é uma coluna ao longo do comprimento da catedral que os bombeiros podem usar para se abastecer de água. Ás vezes funciona, outras vezes não. A compartimentação pode funcionar, mas em alguns casos não funciona. Quanto ao sistema de segurança contra incêndios, bem, por um lado, vamos instalar um sistema multiponto, como está previsto para Notre-Dame e outras catedrais. Noutras catedrais, isso não é possível. Por exemplo, também considerámos isso nos campanários onde temos os sinos. Mas não podemos instalar um detector simples porque está aberto ao vento e, como está aberto a mais pequena partícula de poeira iria activá-lo. Por isso, colocámos câmaras. Assim, temos agora oito catedrais em França equipadas com câmaras nos campanários.

Há interesse por parte de outros países de aprenderem com o que se passou em Notre Dame e a vossa resposta desde 2019?

Participei num seminário em Florença, há dois meses, um seminário franco-italiano, onde fui falar de um outro assunto que ainda não abordámos, que é o dos planos de salvaguarda dos bens culturais, porque lhe falei há pouco do risco de eclosão, do risco de desenvolvimento, de propagação. Depois há, claro, a intervenção dos bombeiros. Por outras palavras, quando os bombeiros intervêm, o que é que lhes permite saber que têm de salvar prioritariamente um determinado quadro ou um determinado bem em detrimento de outro? Por isso é que criámos os planos de salvaguarda dos bens culturais. Estes planos estão no interior do edifício. Quando os bombeiros chegam, olham para esse plano e sabem imediatamente que esta ou aquela obra deve ser salva com prioridade. Fui a Itália para apresentar este plano. Vimos que os bombeiros italianos estavam a começar a interessar-se, porque lá isto não existe de todo.

Como bombeiro, qual foi o sentimento quando viu que Notre Dame estava a arder em 2019?

Sim, estava em Estrasburgo, lembro-me muito bem. Estava a dar um curso na Escola Nacional de Administração, rodeado de professores especializados em gestão de catástrofes e de riscos naturais e que, acabaram por incluir desde então a questão dos planos de proteção dos bens culturais no curso de mestrado, porque sentiram quando se trabalha em crises, não se deve cuidar apenas da protecção das pessoas, mas também da protecção dos bens. Não posso esconder que foi um momento difícil para mim, porque comecei como tenente dos bombeiros de Paris em 1987, no mesmo sector de Notre Dame. A catedral era da minha responsabilidade na altura, quando eu era tenente. Depois tornei-me chefe de operações de todo o corpo de bombeiros e também tinha a catedral no meu sector. E, portanto, vê-la em 2019, quando eu já estava reformado, em chamas obviamente mexeu comigo. E quando me ofereceram o lugar em 2021, os bombeiros de Paris, apesar de eu estar reformado disseram-me: "Bem, quer continuar a trabalhar para o Ministério da Cultura?" Eu disse que sim, disse logo que sim. E por isso fiquei particularmente feliz por poder continuar a acompanhar a catedral. É algo que vou continuar a fazer nos próximos tempos, já que mesmo que tenhamos tido a inauguração as obras vão continuar até 2028.

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Mais de cinco anos depois, não se conhece a causa do incêndio da Catedral de Notre Dame. Isso, segundo o conselheiro de segurança de incêndio do Património no Ministério da Cultura francês, Alain Chevallier, é um assunto que pertence à justiça, já que o inquérito continua para apurar as causas e levar à barra dos tribunais os responsáveis. No entanto, coube a este antigo bombeiro de Paris e especialista no combate aos riscos de incêndio, assegurar que o que aconteceu em 2019 não se voltará a passar. E Alain Chevallier recorreu a todas as tecnicas desde câmaras térmicas a mecanismo de análises de ar para assegurar que Notre Dame não voltará a arder.

No início da entrevista a RFI perguntou a este especialista se havia novidades no inquérito judicial quanto às causa do incêncio de há cinco anos.

RFI: Sabemos o que aconteceu de certeza há cinco anos?

Alain Chevallier: Não é possível responder a esta pergunta porque está a decorrer uma investigação judicial, portanto não posso comentar sobre o inquérito. Mas mesmo com o Ministério Público a investigar, tivemos do nosso lado de efectuar uma análise de risco para podermos trabalhar na reconstrução da Catedral de forma a decidirmos quais os elementos estruturais que iríamos introduzir para reconstruir este edifício de forma idêntica e tivemos de partir de alguns dados adquiridos. Assim, trabalhámos com o INERIS, o Instituto Nacional de Ambiente Industrial e de Riscos, e baseámo-nos no cenário principal possível para o início do incêndio em Notre Dame: a possibilidade que tenha tido início no quadro electrico junto à estrutura em madeira no alto da Catedral. Não quer dizer que tenha sido isso que aconteceu, mas pareceu-nos ser o cenário mais provável e, por isso, a primeira medida foi retirar os quadros eléctricos de lá.

Mas sabemos onde começou o incêndio.

Sabemos que o incêndio começou perto do pináculo, mas depois disso, mais uma vez, cabe aos peritos judiciais investigar. No entanto para tomarmos decisões sobre o futuro da segurança incêndio da Catedral tivemos de assumir que o quadro eléctrico foi uma fonte de problemas.

Como é que se leva a cabo esta investigação e quais são as grandes dificuldades?

De acordo com a minha experiência, depois de tudo ter ardido, porque toda a secção superior da Catedral ardeu, é muito complicado provar como é que o incêndio teve realmente início. Dada a importância internacional deste incêndio e repercurssão que teve, torna-se ainda mais difícil provar onde é que ele iniciou. Não estou a ver como é que um juiz pode dizer alguma coisa sem ter provas materiais irrefutáveis.

Quais são as medidas tomadas para evitar um novo incêndio nesta Catedral renovada?

É preciso ter em conta que trabalhamos com vários riscos, uma situação que enfrento em todas as catedrais em que trabalho, uma vez que sou conselheiro de segurança do património e responsável por 45 catedrais em França, incluindo Notre Dame. Começamos sempre por aquilo a que chamamos o risco de eclosão, ou seja, o que podemos fazer para evitar o início de um incêndio. A primeira coisa que fizemos para evitar um incêndio foi remover todos os painéis eléctricos numa área que não é acessível, que não é de fácil acesso e que não recebe muitas visitas. Na melhor das hipóteses, eram necessários 5 a 10 minutos para chegar ao suposto local de um incêndio na estrutura do tecto de Neotre Dame. No entanto, isso não nos protege de erros humanos que possam ocorrer daqui a 30, 40 ou 50 anos durante um período em que haja obras na Catedral. Mas vamos assumir que, mesmo assim, sem painéis eléctricos, o fogo começa. Vamos então prevenir o risco de deflagração, vamos tentar impedir o risco de o fogo se desenvolver e de se propagar. Assim, para limitar esse risco, decidimos aumentar a espessura das ripas de madeira, trata-se de placas de madeira por baixo das placas de chumbo no telhado. Aumentámo-las de 27 para 40 milimetros porque os bombeiros de Paris acharam que era necessário. Já que é um sítio onde eles precisam de um certo tempo para lá chegar, o receio era que, se houvesse um novo incêndio, o fogo voltasse a trespassar o telhado, o que acelera as combustões já que o ar é combustível para o fogo. De seguida investimos em grandes sistemas de detecção. Adicionámos câmaras de imagem térmica e o objectivo é que o departamento de segurança contra incêndios no andar de baixo possa ver imediatamente se há detecção, onde está e qual a sua importância. Foram instaladas 49 câmaras em toda a Notre Dame. Existe também um sistema de detecção por multipontos, ou seja, tubos que percorrem toda a catedral e aspiram o ar a toda a hora, é silencioso e o ar está em constante análise. Assim, se encontrarem vestígios de carbono no ar, poderão emitir um aviso dizendo que o nível de carbono é demasiado elevado e, portanto, não é normal. Se tivermos um sistema de detecção duplo, este accionará automaticamente o sistema de extinção de incêndios, que acabou de ser instalado. Trata-se de um sistema de nebulização de alta pressão. A ideia não é apagar o fogo. A ideia é evitar que o fogo se propague e progrida.

Estes são sistemas muito modernos. Eles já estão a ser utilizados noutros monumentos em França?

Quando começaram a falar connosco sobre a possibilidade de sistemas de extinção de alta pressão, fui pessoalmente a outros locais onde este sistema estava instalado para verificar o seu funcionamento. Assim, por exemplo, fui à recém-reaberta Ópera do Palácio de Versalhes, que tem o mesmo sistema. Falámos sobre isso e disseram-me que era bastante fiável.

Quais é que foram as lições de Notre Dame e como é que se aplicam noutros monumentos?

Agora que estamos a começar a falar sobre o plano de segurança para as catedrais. É preciso compreender que este plano já existia antes do incêndio de Notre-Dame, mas é claro que o incêndio em Notre-Dame lhe deu um novo empurrão e fez com que o Ministério da Cultura acelerasse uma série de medidas. Portanto, havia um plano inicial, um plano de segurança reforçado para a catedral, que foi posto em prática no final de 2019, início de 2020 e nessa altura começaram a tentar implementar uma série de medidas e eu cheguei ao Ministério em 2021 e, em 2021, criámos um grupo de trabalho para ver exactamente em que ponto estávamos em relação às primeiras medidas. Isso permitiu-nos identificar algumas dificuldades e ver que havia novas técnicas disponíveis, como a instalação de sistemas de extinção automática. Assim, continuámos a melhorar o plano de segurança da catedral, acrescentando pontos como a possibilidade de instalar um sistema de extinção. Este sistema será também instalado na Catedral de Beauvais, pois sabemos que se trata de uma catedral particularmente alta e que um ser humano levaria quase dez minutos a subir lá acima para verificar se há fogo ou não. Por conseguinte, haverá um sistema de extinção de incêndios, tal como em Notre-Dame, com câmaras térmicas, tal como em Notre-Dame, para que possamos actuar rapidamente, se necessário. Agora, há outras soluções, outras coisas que pusemos em prática como parte do plano de segurança da catedral, que foi revisto em 2023. Por exemplo, instalámos aspersores automáticos nos quadros eléctricos nas catedrais onde não é possível retira-los. Se houver um incêndio e o dióxido de carbono foi detectado o fogo será extinto assim que começar. Estamos a proceder à sua instalação em todas as catedrais, pelo que penso que pelo menos 50% delas já estão equipadas. Por exemplo, uma das coisas que já existia era a instalação de compartimentação. Mas graças ao plano de recuperação, a compartimentação foi aumentada em muitas catedrais. Mas também aqui, como costumo dizer, não há duas catedrais iguais. Todas elas têm as suas particularidades. Por isso, mesmo que as regras digam que é preciso compartimentar, é preciso colocar colunas secas, ou seja, uma coluna seca é uma coluna ao longo do comprimento da catedral que os bombeiros podem usar para se abastecer de água. Ás vezes funciona, outras vezes não. A compartimentação pode funcionar, mas em alguns casos não funciona. Quanto ao sistema de segurança contra incêndios, bem, por um lado, vamos instalar um sistema multiponto, como está previsto para Notre-Dame e outras catedrais. Noutras catedrais, isso não é possível. Por exemplo, também considerámos isso nos campanários onde temos os sinos. Mas não podemos instalar um detector simples porque está aberto ao vento e, como está aberto a mais pequena partícula de poeira iria activá-lo. Por isso, colocámos câmaras. Assim, temos agora oito catedrais em França equipadas com câmaras nos campanários.

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Participei num seminário em Florença, há dois meses, um seminário franco-italiano, onde fui falar de um outro assunto que ainda não abordámos, que é o dos planos de salvaguarda dos bens culturais, porque lhe falei há pouco do risco de eclosão, do risco de desenvolvimento, de propagação. Depois há, claro, a intervenção dos bombeiros. Por outras palavras, quando os bombeiros intervêm, o que é que lhes permite saber que têm de salvar prioritariamente um determinado quadro ou um determinado bem em detrimento de outro? Por isso é que criámos os planos de salvaguarda dos bens culturais. Estes planos estão no interior do edifício. Quando os bombeiros chegam, olham para esse plano e sabem imediatamente que esta ou aquela obra deve ser salva com prioridade. Fui a Itália para apresentar este plano. Vimos que os bombeiros italianos estavam a começar a interessar-se, porque lá isto não existe de todo.

Como bombeiro, qual foi o sentimento quando viu que Notre Dame estava a arder em 2019?

Sim, estava em Estrasburgo, lembro-me muito bem. Estava a dar um curso na Escola Nacional de Administração, rodeado de professores especializados em gestão de catástrofes e de riscos naturais e que, acabaram por incluir desde então a questão dos planos de proteção dos bens culturais no curso de mestrado, porque sentiram quando se trabalha em crises, não se deve cuidar apenas da protecção das pessoas, mas também da protecção dos bens. Não posso esconder que foi um momento difícil para mim, porque comecei como tenente dos bombeiros de Paris em 1987, no mesmo sector de Notre Dame. A catedral era da minha responsabilidade na altura, quando eu era tenente. Depois tornei-me chefe de operações de todo o corpo de bombeiros e também tinha a catedral no meu sector. E, portanto, vê-la em 2019, quando eu já estava reformado, em chamas obviamente mexeu comigo. E quando me ofereceram o lugar em 2021, os bombeiros de Paris, apesar de eu estar reformado disseram-me: "Bem, quer continuar a trabalhar para o Ministério da Cultura?" Eu disse que sim, disse logo que sim. E por isso fiquei particularmente feliz por poder continuar a acompanhar a catedral. É algo que vou continuar a fazer nos próximos tempos, já que mesmo que tenhamos tido a inauguração as obras vão continuar até 2028.

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