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‘A Negra’, de Tarsila do Amaral, é tema de debate promovido pelo Museu do Luxemburgo e MAC USP em Paris
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O Museu do Luxemburgo, em Paris, juntamente com o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP) e o Centro Alemão de História da Arte, promovem na terça e quarta-feira (4 e 5) a jornada de estudos sobre o quadro "A Negra" de Tarsila do Amaral. A obra emblemática da artista e do Modernismo brasileiro é questionada dentro do debate sobre descolonização e representação de pessoas negras na arte.
O quadro, que está exposto no Museu do Luxemburgo dentro da exposição “Tarsila do Amaral. Pintar o Brasil moderno”, em cartaz até 2 de fevereiro, faz parte do acervo do MAC USP.
"A Negra" retrata uma mulher com características estilizadas, misturando cubismo e arte brasileira. Mas o que gera debate não é o estilo ou as técnicas utilizadas na obra, senão a maneira como a personagem central é retratada.
“Do ponto de vista dos movimentos sociais no Brasil hoje, o movimento negro feminista, os movimentos antirracistas, ela é uma obra super problemática porque apresenta a figura de uma mulher negra absolutamente exotizada, despersonalizada, racializada, objetificada”, explica Ana Magalhães, diretora do MAC. Estas questões levaram o museu de São Paulo a fazer um esforço de releitura da obra dentro do espaço onde está exposta.
Ana Magalhães explica que o pedido de trazer a obra para Paris fazia sentido. O quadro “foi pintado nesse meio artístico”, diz. A obra foi realizada na França em 1923 quando Tarsila do Amaral residia em Paris e só foi levado para o Brasil em 1933 e começa a ser importante dentro da historiografia da arte brasileira entre os anos 40 e 50.
As jornadas do estudo, realizadas no Palácio de Luxemburgo na segunda-feira e no Hotel Lully na terça-feira, permitem “colocar em contato pesquisadores aqui (na França) e lá (no Brasil) para olhar para essa obra e para a produção da Tarsila e enfim, estar em frente a essas novas questões”, diz Ana Magalhães.
Representação afirmativa da afrobrasilidade
Tarsila nasceu em 1886 em uma família rica de cafeicultores de Capivari, interior de São Paulo. Em uma entrevista à revista Veja em 1973, a pintora conta que a tela se inspirava de suas memórias da infância na fazenda, onde conheceu antigas escravas.
Rafael Cardoso, historiador da arte, pesquisador associado à Freie Universidade de Berlim e professor na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, que participa nas jornadas de estudo, lembra que até muito recentemente, o quadro era visto sem que nenhuma problematização fosse levantada e como “uma representação nacionalista e afirmativa da afrobrasilidade. Agora isso se inverteu completamente”.
“Agora ela é vista criticamente como uma obra de apropriação cultural e de uma cultura subalternizada por uma pessoa rica, poderosa, de classe. Ela é uma obra extremamente criticada, mas é uma obra canônica em termos de arte brasileira”, observa.
Tarsila é uma das artistas brasileiras de mais projeção no exterior e já teve exposições solo no MoMa de Nova York e no Art Institute of Chicago.
Discussão na França
Sobre o eco deste debate, Ana Magalhães opina que a “França e outros países da Europa estão entrando numa discussão sobre descolonização e sobre a presença de artistas mulheres, sobretudo nas instituições culturais e no meio artístico, no sistema da arte. Eu acho que agora a questão da imigração e a questão do racismo está começando a emergir, porque isso é alguma coisa que está reivindicada pelas ruas”, diz.
Mas ainda é difícil saber as reações do público francês sobre obra de Tarsila, já que a mostra começou em 9 de outubro. Cecília Braschi, curadora da exposição no Museu do Luxemburgo, diz que “espera justamente as reações”.
Ela diz que o objetivo era enfrentar “o tema de jeito bem frontal”, da mesma maneira que o quadro “é frontal”. “A figura que nos enfrenta de cara e temos que falar abertamente hoje e no Brasil se está fazendo muito. Aqui, acho, que é um assunto nascente”.
Segundo a curadora, as críticas que a exposição recebeu até agora são “eurocêntricas”. “Tem algumas confusões também de interpretações que formam parte de um contexto, de na cultura, de uma estratificação de significações que estamos justamente discutindo aqui. Eu acho que é muito importante”, diz.
Cecília Baschi diz ter ficado impressionada com as diferentes interpretações sobre o quadro que surgiram nos debates. “Mas como cada um vê coisas distintas sendo brasileiro, europeu, sendo branco, sendo preto, sendo mulher ou homens, já tenho uma coleção de 56 interpretações distintas desse quadro. Eu acho muito interessante porque esse é um quadro que fica atual, no sentido que a interpretação dele sempre vai evoluindo e acrescentando sentidos”, acredita.
28 episoder
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O Museu do Luxemburgo, em Paris, juntamente com o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP) e o Centro Alemão de História da Arte, promovem na terça e quarta-feira (4 e 5) a jornada de estudos sobre o quadro "A Negra" de Tarsila do Amaral. A obra emblemática da artista e do Modernismo brasileiro é questionada dentro do debate sobre descolonização e representação de pessoas negras na arte.
O quadro, que está exposto no Museu do Luxemburgo dentro da exposição “Tarsila do Amaral. Pintar o Brasil moderno”, em cartaz até 2 de fevereiro, faz parte do acervo do MAC USP.
"A Negra" retrata uma mulher com características estilizadas, misturando cubismo e arte brasileira. Mas o que gera debate não é o estilo ou as técnicas utilizadas na obra, senão a maneira como a personagem central é retratada.
“Do ponto de vista dos movimentos sociais no Brasil hoje, o movimento negro feminista, os movimentos antirracistas, ela é uma obra super problemática porque apresenta a figura de uma mulher negra absolutamente exotizada, despersonalizada, racializada, objetificada”, explica Ana Magalhães, diretora do MAC. Estas questões levaram o museu de São Paulo a fazer um esforço de releitura da obra dentro do espaço onde está exposta.
Ana Magalhães explica que o pedido de trazer a obra para Paris fazia sentido. O quadro “foi pintado nesse meio artístico”, diz. A obra foi realizada na França em 1923 quando Tarsila do Amaral residia em Paris e só foi levado para o Brasil em 1933 e começa a ser importante dentro da historiografia da arte brasileira entre os anos 40 e 50.
As jornadas do estudo, realizadas no Palácio de Luxemburgo na segunda-feira e no Hotel Lully na terça-feira, permitem “colocar em contato pesquisadores aqui (na França) e lá (no Brasil) para olhar para essa obra e para a produção da Tarsila e enfim, estar em frente a essas novas questões”, diz Ana Magalhães.
Representação afirmativa da afrobrasilidade
Tarsila nasceu em 1886 em uma família rica de cafeicultores de Capivari, interior de São Paulo. Em uma entrevista à revista Veja em 1973, a pintora conta que a tela se inspirava de suas memórias da infância na fazenda, onde conheceu antigas escravas.
Rafael Cardoso, historiador da arte, pesquisador associado à Freie Universidade de Berlim e professor na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, que participa nas jornadas de estudo, lembra que até muito recentemente, o quadro era visto sem que nenhuma problematização fosse levantada e como “uma representação nacionalista e afirmativa da afrobrasilidade. Agora isso se inverteu completamente”.
“Agora ela é vista criticamente como uma obra de apropriação cultural e de uma cultura subalternizada por uma pessoa rica, poderosa, de classe. Ela é uma obra extremamente criticada, mas é uma obra canônica em termos de arte brasileira”, observa.
Tarsila é uma das artistas brasileiras de mais projeção no exterior e já teve exposições solo no MoMa de Nova York e no Art Institute of Chicago.
Discussão na França
Sobre o eco deste debate, Ana Magalhães opina que a “França e outros países da Europa estão entrando numa discussão sobre descolonização e sobre a presença de artistas mulheres, sobretudo nas instituições culturais e no meio artístico, no sistema da arte. Eu acho que agora a questão da imigração e a questão do racismo está começando a emergir, porque isso é alguma coisa que está reivindicada pelas ruas”, diz.
Mas ainda é difícil saber as reações do público francês sobre obra de Tarsila, já que a mostra começou em 9 de outubro. Cecília Braschi, curadora da exposição no Museu do Luxemburgo, diz que “espera justamente as reações”.
Ela diz que o objetivo era enfrentar “o tema de jeito bem frontal”, da mesma maneira que o quadro “é frontal”. “A figura que nos enfrenta de cara e temos que falar abertamente hoje e no Brasil se está fazendo muito. Aqui, acho, que é um assunto nascente”.
Segundo a curadora, as críticas que a exposição recebeu até agora são “eurocêntricas”. “Tem algumas confusões também de interpretações que formam parte de um contexto, de na cultura, de uma estratificação de significações que estamos justamente discutindo aqui. Eu acho que é muito importante”, diz.
Cecília Baschi diz ter ficado impressionada com as diferentes interpretações sobre o quadro que surgiram nos debates. “Mas como cada um vê coisas distintas sendo brasileiro, europeu, sendo branco, sendo preto, sendo mulher ou homens, já tenho uma coleção de 56 interpretações distintas desse quadro. Eu acho muito interessante porque esse é um quadro que fica atual, no sentido que a interpretação dele sempre vai evoluindo e acrescentando sentidos”, acredita.
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